"eu defenderei até a morte o novo por causa do antigo e até a vida o antigo por causa do novo.
O antigo que já foi novo é tão novo como o mais novo."
Augusto de Campos (Verso, reverso, controverso)

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

CTNP: Doze razões para comprar terras no Norte do Paraná

Acabei de receber esta relíquia, original e em ótimas condições de conservação:
Livreto/cartilha de 16 páginas com texto e fotografias em preto e branco onde descreve uma dúzia de razões para a compra de terras, editado pela Companhia de Terras Norte do Paraná datado de abril de 1948:

1) Situação geográfica onde prega-se que "é a ultima zona do Brasil reconhecidamente própria para a cultura do café" com um futuro brilhante à frente.
2) "Na maior parte, a zona é de terra roxa apurada, uma das mais férteis do mundo".
3) Com "altitutes convenientes (de 500m a 850m acima do nível do mar), clima ameno, boas aguadas por toda parte, a salubridade da região é garantida".
4) Até 1930 era vasto sertão deshabitado; conhecia-se apenas uma estreita faixa perto da fronteira com o Estado de São Paulo. Naquele ano a Cia. de Terras Norte do Paraná iniciou seus esforços de colonização, enquanto outra Cia aliada atacou o prolongamento da Estrada de Ferro São Paulo-Paraná, de leste para oeste, para penetrar profundamente sertão a dentro".
5) "Tendo comprado do Governo do Paraná, diretamente, uma área de 515.000 alqueires paulistas de terras devolutas nas bacias dos rios Paranapanema, Tibagí, Pirapó e Ivaí, a CTNP está, como sempre esteve, em condições de garantir aos seus compradores o domínio absoluto e seguro nas terras que adquirirem".
6) "A Cia. estabeleceu sua sede numa clareira na mata virgem e na vizinhança surgiu a povoação que é hoje a cidade de Londrina".
7) "De Londrina começaram a irradiar estradas de rodagem para todos os cantos da propriedade. Abriram-se fazendas, sítios e chácaras. Desenvolveram-se o comércio e a indústria".
8) "A estrada de ferro chegou a Londrina em 1935; em 1941 alcançou Apucarana. Agora, propriedade do Governo, está destinada a ir mais adiante, para facilitar a vida de cidades como MARINGÁ, centro de terras riquíssimas e coração do território da Companhia. O Governo já firmou contrato com diversos empreiteiros para a construção de quase 100 quilômetros de linha, na direção de Maringá e do rio Ivaí, e as obras estão sendo realizadas".
9) "Nos 17 anos que passaram, desde o começo da colonização, até 31 de dezembro de 1947, Companhia vendeu 260.551 alqueires" - (a área média dos milhares de lotes vendidos é de 16,02 alqueires).  
10) "Onde não havia um morador sequer em 1930, vive hoje uma população de mais de 200.000 almas".
11) "Divide-se esta população hoje em seis municípios: Londrina, Cambé, Rolandia, Arapongas, Apucarana e Mandaguarí, O primeiro e o quinto são também sedes de comarcas".
12) Para dar idéia da produtividade da zona, citamos, baseados em estatística municipal referente apenas ao município de Londrina, as seguintes cifras de valor de produção em 1946:

Produção agrícola  .............................................................................. Cr$  203.439.000,00
Produção existente  ............................................................................. Cr$   29.883.000,00
Produção de madeiras   ....................................................................... Cr$   17.566,700,00
Produção de origem animal (ovos, leite, banha etc)  .......................... Cr$   14.530.200,00
Produtos agrícolas como café, milho, arroz, feijão, trigo, algodão, tungue, mamona, ramí, batatas, amendoim, óleo de menta, bicho-da-seda, alfafa e cana de açucar são citadas e ilustram esta cartilha que tenta seduzir os potenciais compradores / investidores.
A Companhia vende:
1) Datas, nas cidades fundadas por ela, de tamanho médio de 500-600 metros quadrados cada uma;
2) chácaras, em redor das cidades e vilas, até a área de 5 alqueires paulistas;
3) lotes rurais de 5 alqueires paulistas para cima, para sítios e fazendas.
As condições de pagamento são as seguintes:
1) para data: a vista;
2) para chácaras: 40%  a vista e duas prestações anuais de 30% cada;
3) para sítios e fazendas: 30% a vista;
    10% depois de 1 ano;
    20% depois de 2 anos;
    20% depois de 3 anos;
    20% depois de 4 anos.
"Nas vendas a prestação contam-se juros anuais de 8% sobre a dívida. O comprador paga os juros juntamente com as prestações. O comprador recebe os lotes rurais, chácaras e datas devidamente demarcados e medidos, livres de quaisquer custos. A escritura definitiva é entregue ao comprador após o pagamento da última prestação, correndo por conta dele o pagamento da taxa de transmissão".
Produtos da pecuária também são mostrados, como suínos, gado de leite e de corte. A madeira era uma grande fonte de riqueza naquela época, destacando-se a Peroba Rosa, Cedro, Caviúna, Cabriúva, Pau d'Alho, Figueira Branca, Jangada Brava, Ceboleiro, Ortigão, Cambará de Meia Légua etc.

Para mim, uma novidade: o tungue, um fruto de uma árvore exótica (chinesa) que foi febre nos anos 1920-1930 no mundo e aqui, no Norte do Paraná. Uma cultura incentivada pela CTNP. O tungue tinha como subproduto principal, o óleo industrial, utilizado principalmente para conservar madeira e produzir graxas.  Soube que hoje é uma alternativa para bio-combustível.


Fonte:  Livreto/Cartilha da Cia. de Terras Norte do Paraná - S. Paulo - Abril de 1948.
(Acervo pessoal de J.C. Cecilio)


2 comentários:

  1. JC, belo material.

    Também temos outra cultura quase nunca comentada nos livretos ou referências, o algodão. Em Maringá, por exemplo, existia uma grande plantação da família Kumura.

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  2. JC, esse livreto-cartilha é apaixonante! Obrigado por mais esta que você nos presenteia. Seu olho vivo e o faro fino pras coisas históricas são impressionantes. BRAVO!!!

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