"eu defenderei até a morte o novo por causa do antigo e até a vida o antigo por causa do novo.
O antigo que já foi novo é tão novo como o mais novo."
Augusto de Campos (Verso, reverso, controverso)

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Américo Dias Ferraz: A liberdade

Após 5 anos de prisão, iniciada em São Bernardo do Campo, no estado de São Paulo, o ex-prefeito Américo Dias Ferraz está de volta a Maringá. Ao ser abordado por um repórter, ele já dizendo:
- Por favor, menino, não vamos recordar coisa ruim !
"Apenas temos a dizer aos leitores que Américo, um dia, num momento de violenta crise emocional, apertou o gatilho deu aquele tiro que lhe custou uma sentença de 14 anos de reclusão, que, por seu bom comportamento, foi reduzida par 10, dos quais ele cumpriu 5, sendo posto em liberdade no dia 26 de agosto deste ano."
Américo voltou a Maringá para ver como andava seu prestígio. Chegou de madrugada e começou a chorar desde que viu, de longe, as luzes da cidade e as silhueta dos prédios:
- Deus! Como cresceu isto aqui!
O ex-prefeito, antes de mais nada, quis dar um passeio, de rua em rua, de praça em praça, de bairro em bairro, vendo aquilo que foi feito durante sua ausência. Sua primeira manifestação:
- Sou muito agradecido aos prefeitos João Paulino e Luiz de Carvalho - , porque eles fizeram tudo o que eu gostaria de ter feito em Maringá.
AMIGOS:
Chegou o momento do teste. Américo desceu do carro e passou a andar a pé. Velhos amigos logo o reconheceram e vieram abraça-lo com alegria espontânea:
- É  o Américo, ele voltou! Está a mesma coisa...
De fato era o mesmo Américo de sempre: barulhento, gestos largos, sorriso aberto, vocabulário característico. Apenas os cabelos embranqueceram ligeiramente:
- Mas estou em plena forma! Bom de tinir!
Cada velho conhecido era uma festa. Convites para almoços, convites para jantares, convites para cafezinho.
O homem sentiu-se completamente absolvido, feliz da vida, contente em ter de novo o carinho de seu povo, da gente simples que ele conheceu desde o pioneirismo, dos amigos que foram multiplicados pela mesma política que tanto prejudicou sua vida de empresário.
SAUDADES:
Então Américo, meio chorando, meio sorrindo, começou a debulhar saudades. Lembrava de quando chegou a Maringá, no começo da cidade. Veio pobre de Minas Gerais. Vendia frango e pastéis e pregava leilão em frente da Igreja. Depois juntou um dinheirinho, e outros dinheirinhos até que pode lançar-se no negócio do café e cereais, que fez dele um dos homens mais ricos do Paraná.
CANDIDATO:
No meio da conversa, veio também a lembrança de como Américo se candidatou a prefeito. Faltavam apenas 45 dias para as eleições de 1956. Estavam lá registrados quatro candidatos:  Haroldo Leon Peres, Gerardo Braga, Ângelo Planas e Otávio Perioto. Tudo indicava uma grande vitória de Haroldo.
Mas Américo não quis saber de nada. Resolveu ser candidato, registrou-se para concorrer e mandou brasa.
A cidade, no final da administração Villanova Júnior, estava cheia de buracos, as ruas em pandarecos. Pois o novo candidato tirou dinheiro do próprio bolso, comprou uma grande motoniveladora e mandou consertar as ruas. Aquilo foi um estouro!
Por sorte dele, um de seus adversários resolveu chamá-lo de "candidato dos violeiros" . Foi a deixa que ele esperava. Américo subiu no palanque com uma viola a tiracolo, explorou da melhor maneira possível sua condição de "candidato dos violeiros" e as urnas cantaram: vitória de Américo Dias Ferraz.
PREFEITURA:
Como chefe do executivo municipal, não mudou em nada o seu jeitão de mineiro extrovertido. Tratou logo de  começar a pavimentação da cidade, mandou fazer jardins, ele fez uma fonte luminosa e quase levantou mais duas, começou a construir a Estação Rodoviária, abriu diversos poços para solucionar os problemas de emergência no abastecimento de água e realizou várias obras importantes.
COLÔNIA ABERTA:
Tendo passado por três tipos de prisão, Américo esteve ultimamente numa Colônia Aberta de Baurú, onde se faz uma avançada experiência em matéria de penitenciária. Ali, o preso trabalha, sente-se dentro de uma quase sociedade, tem diversões, experimenta a sensação de que está sendo tratado como uma criatura humana e de que os carcereiros são mais amigos do que policiais. Diz ele que deveria haver mais colônias abertas no Brasil, "porque é a melhor maneira de recuperar para ao sociedade um homem que tenha  sido indigno desta sociedade".
PROMESSA:
O ex-prefeito havia feito uma promessa: assistir uma missa na Catedral de Maringá, logo que recuperasse a liberdade. Cumpriu a promessa no primeiro domingo que passou em sua cidade.
Naquele instante, em seu diálogo com Deus, todo o sentimento de um homem ficou expresso na eloquência das lágrimas que escapuliram de seus olhos.
Américo reza na Catedral e agradece a fé que o suportou na amarga experiência  da prisão
Fonte:   Revista  Novo Paraná -  Setembro de 1967.  - Acervo J C Cecilio



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