Maria Alice Lepeco posa com o bebê Miguel Vaspeano Lepeco, minutos após o parto a bordo.
(O Jornal de Maringá – 1957)
Naquela manhã
fria do final de outono, no dia 10 de junho de 1957, chega ao Aeroporto de Guaíra*, um velho Ford 29 conduzindo um
modesto casal até a porta do avião, um Douglas DC-3 da VASP prefixo PP-SQA**
na pista pronto para decolar com destino a Maringá, com escala em Campo Mourão.
O marido acompanha sua esposa Maria Alice Lepeco no nono mês de gravidez, com
risco apontado pelo seu medico em Guaíra, que não tinha recursos para um parto
cesariana, por isso recomendou ir a Maringá.
Durante o voo,
próximo ao pouso em Campo Mourão, a sra. Maria Alice sentiu os primeiros sintomas de
parto. O comandante Eleud suprimiu a escala em Campo Mourão e seguiu direto
para Maringá. Agindo mais que rapidamente, o comissário Celso Schmidt improvisou uma cama e cortinas
com mantas de bordo. Convocou duas passageiras para ajudar no serviço de parto,
transformando-se em obstetra. Poucos minutos depois, um choro de bebê chegava
até a cabine do piloto.
“É um menino!”
– anunciou o comissário.
Os passageiros
e tripulação contagiados pela emoção, aplaudiram e choraram de alegria ao ver o novo passageiro chegar em
pleno ar. Por radio o comandante passou o relato onde solicitou um medico e uma
ambulância.
Aterrisagem
perfeita, o novo e demais passageiros desembarcaram em Maringá, onde uma ambulância
e vários repórteres aguardavam os protagonistas do belo acontecimento. Os bebê
com seus pais foram encaminhados para a Maternidade São José.
A mãe, muito
feliz e agradecida, disse: “Pois, por causa da VASP, vai se chamar Vaspeano!”.
Não se sabe, se
foi o pai que adicionou o primeiro nome de
Miguel (nome de anjo, por nascer no céu). Batizado como Miguel Vaspeano
Lepeco com as honras do comandante Eleud
Ziolkowski como padrinho,
No Brasil, foi
o primeiro caso de parto em voo. No exterior já havia relatos nos tempos da Segunda Guerra.
(*) Os
aeroportos de Guaíra e Campo Mourão foram autorizados a operar voos comerciais
em 1955.
(**) A aeronave
Douglas DC-3 da VASP prefixo PP-SQA sofreu acidente durante pouso no
Aeroporto de Rondonópolis, no estado de Mato Grosso, em 29 de janeiro de 1973,
sem relato de vítimas.
Vaspeano, perpétuo!
Aos seis anos
de idade, em dezembro de 1963, o garoto Miguel Vaspeano Lepeco, morador de
Guaíra, Paraná, foi o convidado de honra no almoço anual da VASP com toda a
direção da empresa, jornalistas e agentes de turismo em São Paulo. Miguel
recebeu um “Passe-Livre Perpétuo” (passagem grátis em todos os voos pela companhia).
Em 2008, a
empresa VASP encerrou suas atividades após muitos problemas administrativos e
dívidas.
Relação dos funcionários da VASP em 1975 (jornal Correio Braziliense - 1975) |
*
Um Anjo
caiu!
Miguel, agora
adulto, foi funcionário da VASP e piloto por 34 anos. Durante sua vida
profissional, na maior parte na região amazônica, passou por muitas situações
de perigo e acidentes, sem vítimas.
Em 13 de maio
de 2010, num voo fretado pela Secretaria de Educação do Estado do Amazonas, o O avião Embraer EMB-810C Seneca II
prefixo PT-EUJ decolou do aeródromo de Flores, Manaus, em direção a Maués ,
também no Amazonas, a cerca de 365 km.
O piloto perdeu
o controle do avião, mas conseguiu desviar de um bairro populoso de Zumbi dos
Palmares, na zona leste de Manaus. Todos os seis ocupantes faleceram na
queda: Miguel, o piloto, a Secretária de
Estado e demais funcionários desta secretaria. O governador decretou luto oficial
por três dias. Miguel deixou esposa e filhos.
*
*
É uma menina! - Socorro no Ar!
No dia 30
de setembro de 1965, o casal Maria e Luciano Trovisco, voava em um DC-4, partindo do Rio de
Janeiro, Guanabara com destino a Manaus,
Amazonas. Maria, 26 anos, gestante pelo nono mes, dá à luz em pleno voo de carreira.
Assim nascia Maria do Perpétuo Socorro Trovisco. O rádio-operador Castanhola fez o parto com grande sucesso. Muita alegria a bordo.
Atualmente, a
Dra. Maria do Perpétuo Socorro Trovisco Caldas é médica em Curitiba, estado do
Paraná.
Excelente resgate. Auxiliou a entender melhor a história, pois havia muitas dúvidas acerta da data exata do ocorrido. Apenas uma questão: foi em um DC-3. O termo/modelo Douglas C-47 foi utilizado equivocadamente durante certo período pela imprensa.
ResponderExcluirDC-3: Douglas CIVILIAN - denominado para uso civil tem o mesmo corpo do C-47 ou Dakota (inicialmente para uso militar). Aeronave mais versátil em campos de pouso precários e pistas curtas. Sucesso nas décadas de 1930-1940-1950. Levava até 32 passageiros.
ResponderExcluirBem dificil de dizer a identidade do PP-SQA. Ele nasceu um C-47-DL (DL = fabrica da Douglas em Long Beech), sendo entregue a USAAF no dia 1Out42. Foi comprado pela VASP em 1949. Foi doado ao Projeto Rondon no final de decada de 60 condinuando a ser operado pela VASP. Foi perdido num acidente num acidente em 29Jan79.
ResponderExcluirHistoricamente falando, a designacao C-47 e a usada na USAAF. Na Douglas era denominado DC-3A-360. epois da guerra, os C-47 foram certificados para uso Civil como DC-3C pela fabrica, mas nos documentos da aviacao civil era DC3-SCG, relativo aos motores usados.
Gostaria de pedir pernissao para usar suas informacoes no meu rojeto de livro que conta a estoria dos DC-3/C-47 no Brasil. Obrigado
Tudo bem, pode usar sim. Obrigado.
ExcluirGostaria de ver o livro quando editado. Me avise quando estiver pronto. Obrigado.
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